Uma noite sonhei com Tom Jobim. Eu entrava na casa dele. Estava tocando o piano, com aquele cabelão. Ele olhou para mim e falou: agora que o garoto (eu!) chegou, vamos para o sítio. Umas noites depois sonhei com um oceano lindo, com um azul muito intenso. Era um azul que tinha dentro o azul de muitos mares. O sítio do Jobim, no meu sonho, era o mar. Eu e meu filho (“o garoto”) íamos como voando, percorrendo o litoral. Meu filho Mika olhava para o mar, encantado, totalmente facinado. Eu segurava a mãozinha dele, e aquele azul se deslocava con muita velocidade. Tanta que parecia que a gente estava parado, e o mar e o céu e o mundo todo girava ao redor. “Me deixa viver nesse azul”, canta uma mulher dentro de alguma música do Jobim. “São os mares do Sul do Brasil, meu filho. Você vai conhecer depois da pandemia”, falava eu.
Bernardo Gutiérres
Madrid
Spain