Sei que estou morrendo. Alguém ou algo gira em torno de mim, escuto uma coisa como ‘câncer no fígado’; mas desconfio ou não entendo a diagnóstica, penso ou escuto ou enxergo se não é do vírus que se trata, Me pegou! Coitada, tão jovem. Não sabia que podia terminar aqui, achei que seria um pouco mais infinita. Vejo as amigas em torno de minha mãe tentando consolo, mas assentindo sem palavras de fé que não haveria retorno nem esperança. Não sei se enxergo meu corpo, penso que não durei muito mais que Patricia, meu amor de juventude. Quem diria, hein? As amigas em torno de minha mãe, um longo tempo distentido, parece que não posso falar nada, sei que estou partindo, é tão cedo, acho que vejo meu corpo. É tão bom viver, eu penso, era tão bom viver, ah, se eu pudesse ter mais cinco minutinhos, só mais cinco minutos, uma semana, é tão bom viver, se eu puder atravessar isso, agora sei o que se sabe quando se está ali, acontece a todos, mas não aconteceria comigo, comigo não, sinto o gosto de meu fim e não me desespero, mas desejo mais… donde barganho: um amanhecer a mais, cinco minutinhos, se eu puder voltar à vida sabendo o que sei agora tudo seria diferente, o coração bate, celerado: Estou viva! Acordo.
Mariana Castro
São Paulo
Brasil