DREAM 90

Aconteceu há pouco. Tento escrever pois a insônia voltou após a confusão entre os mundos. Nestes dias pandêmicos não consigo dormir antes das 4am. Isso nada me intriga, a insônia é uma companheira constante e faz parte do diagnóstico bipolar desde sempre. A escassez de boa cannabis neste momento tem sido cruel, mas também igualmente terapêutica para o aprendizado de como viver com menos recursos e menos mobilidade. Para tentar pegar no sono tenho me aliado a baldes de chá de camomila e playlists de sons relaxantes de frequência 417Hz, daquelas que prometem dormir rápida e profundamente. Funcionou no começo, agora já não mais. Hoje decidi apelar para episódios aleatórios do Chaves, porque lembro de almoços ensolarados em domingos da infância. Em um deles, ironicamente, todos os personagens ficaram sonâmbulos, e com isso a “Bruxa do 71” foi confundida com “La Llorona”. Matei três moscas no banheiro quando levantei para beber água. Nas pernas, uma estranha sensação de membros amputados são o desafio para a sanidade desta noite. Finalmente adormeci. O pesadelo foi dentro do mesmo espaço em que estou. Pelo olho mágico dois vampiros riam e faziam convites para abrir a porta. corri para o quarto e os vi na janela, sorrindo com desejo e deboche, seus corpos achatados pela superfície do vidro. Em desespero tentei buscar armas de defesa e a única que achei foi uma corrente de prata que realmente existe. Foi quando percebi que havia alguém comigo no quarto e que eu tentava defender. Este ser primeiramente estava sem rosto, depois pareceu por poucos segundos a pessoa que me presenteou o amuleto, a única que tem demonstrado cuidado por mim nestes dias claustrofóbicos, depois percebi (por instinto não por percepção da realidade paralela) que era eu mesmo. Comecei a gritar por socorro até despertar com meus próprios gritos. Olhei para a janela, que estava aberta, para entender que o pânico foi resultado de sonhar dentro do mesmo espaço que habito mas que não posso sair. Estranhamente não costumo lembrar dos sonhos após acordar mas este foi real demais e tenho que descrevê-lo agora pois a insônia voltou. Parei de fumar mas estou salivando por um cigarro. Rio de Janeiro, 29 de março de 2020, a partir de 2.50pm; tentativa de firmar a realidade ilusória do espaço às 4.27am; agora exatamente 5.13am

O Claustroinsoniano

Rio de Janeiro

Brasil

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