Fugíamos. Uma trupe de umas 4 pessoas. Tínhamos dois cavalos. Era preciso aprender a fazer a rédea com cordas. Eu pensava, que pena, essa boca deles machucada pelas cordas. Não tá certo isso. Mas era o único modo. Nos separávamos pois alguns tinham cavalos, outros não. Chegamos ao refúgio. Eu tenho certeza que é Bertioga. Um muro cinza, alvenaria sem acabamento, alguns quartos, casinhas pequenas, protegidas pelo muro. Do outro lado, aquela praia de areia cinza. úmida. Batida. Escolhemos uma das casinhas. Começamos a entender o que havia alí. Chegou a outra parte do grupo, outro cavalo. Se acomodavam em outra casa. Eu fui trazendo o cavalo que estava conosco “acho melhor os dois ficarem juntos, se fazem companhia”. Não, de forma nenhuma. Ela respondeu. Eu pregava companhia mas, alí, entendi que eles brigariam. Pula para Bienal de arte de sao paulo. Um salão amarelado nas paredes. Aquelas instalações preguiçoooosas. Eu estava deitada em um banco, dentro do espaço. Era uma instalação de um fotógrafo de SP. “Ah, agora ele trabalha com isso”, pensei. Ele foi colocando várias coisas ao meu redor, me cobriu, deixou o celular dele tocando uma fala e uma música ao meu lado. Eu sou parte da obra, pensei. Todos saíram. Quando cansei, levantei. Quase na porta, me senti culpada de deixar o celular do cara alí, sozinho. Eu sabia onde ele tinha ido, voltei pra pegaro o celular e devolver. Aí um senhor pegou o telefone. Cheguei tímida… Esse celular é seu? Quando ele travou a tela apareceu a foto de uma senhora, cabelos curtos e platinados, feliz numa parede de casa. Atrás dele estava a mesma senhora. Já emendei falando “claro que é seu! Olha lá sua companheira no fundo de tela…”. Pula para. Alguém me empresta malas usadas para que eu possa voltar pra casa. Uma zona total no aeroporto. Eu cheguei super cedo, mesmo assim estou atrasada. Argumento: mas eu cheguei muitas horas antes! A aeromoça fala que vai tentar me embarcar. Começamos a reunir as malas, são muitas, pequenas, grandes, não reconheço. Algumas se encaixam em outras, para facilitar o transporte. O que tem dentro dessas malas? Começo a pensar como sou irresponsável, eu não tenho idéia do que estou transportanto dentro dessas malas. De quem são essas coisas? A equipe da companhia aérea me faz muitas perguntas. Não sei o que responder, nem em que língua. Me desdobro para arrumar tudo em um carrinho e seguir atrás da aeromoça. Nos olhamos dentro do elevador, sem falar nada, dividindo a complexidade da situação que vivemos.
ALICIA SANTOS PERES
São Paulo
Brasil